sexta-feira, 18 de abril de 2008

Entreato....


Todos os dias ela pedia:
– Dorival, por favor, querido, não deixe o xampu aberto!
Todos os dias ele nem ligava.
Uma manhã, exausta, ela teve uma crise de choro e ficou olhando para o vidro de xampu, mais uma vez aberto sobre a pia.
Viu-se refletida na tampa do vidro. Achou-se ridícula chorando em dourado.
Aproveitou o resto do xampu, lavou o rosto, ligou o computador e, por vingança, entrou num chat de encontros amorosos. Arrumou um amante virtual que já no segundo encontro a chamava de “minha neguinha”.
Já não implicava mais com vidro de xampu. Esperava o marido sair e entrava no bate-papo, já amadurecendo a concretização da traição virtual.
Um mês depois, ela confessou: – Amílcar, estou apaixonada por você, mas odeio que me chamem de “neguinha”.
Ele ativou o caps-lock e escreveu: “VOCÊ DEVE SER O TIPO DE MULHER QUE IMPLICA COM VIDRO DE XAMPU ABERTO. TÔ FORA, NEGUINHA”.
Saiu da sala virtual e nunca mais ela o encontrou.

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