quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Santíssima Trindade?


Não adiantou a pomba reclamar.

Agora eram a Santíssima Quaternidade:

Pai

Filho

Espírito Santo

Gaudí.


terça-feira, 25 de setembro de 2007

Becos fascinam?




















O beco,
Em sua inteireza,
Se apreende num só lance de olhar.
O beco
Se satisfaz,
Se limita,
Se realiza:
Não precisa de sol,
Não precisa de lua,
Não precisa de ar,
Não precisa de água.

O beco é onanista.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Barcelona - A Sagrada Família e o sufoco


Pois é... Gaudí era gênio. Mas mais genial ainda são as autoridades de Barcelona que nem querem ouvir falar em acabar de vez a obra da Sagrada Família. Não aceitam ajuda governamental, nem da UNESCO... nada. Só do povo. Cada um paga um tijolinho... Imagina o tempo que essa catedral vai demorar pra ser terminada.
A idéia é prolongar até quando der. Afinal, o que será da Barcelona se a Sagrada Família for concluída, hein? São milhares de pessoas que passam por ali a cada dia.
Eu não moraria jamais em Barcelona... por causa da Sagrada Família.
Imagine conviver com um marco temporal tão fodido desses, a lembrar, todo dia, que "você não vai viver pra ver isso pronto, señor". Credo! Você acorda, aquela sensação... "Hum... vou morrer antes de terminarem a Sagrada Família". "Nunca vou ver a parte final da igreja, que Gaudí levou uma vida a planejar". "Meus filhos e netos - pra quem os tem - tampouco verão a Sagrada Família concluída..."
Em resumo, a mesma sensação de finitude terrena que a igreja medieval queria transmitir aos crédulos. Somada à mesma sensação de fluidez e inconstância da vida na terra.
Eu, hein.
fora.
A catedral é linda, Gaudí foi um gênio, o arquiteto que acompanha a obra agora é outro gênio, mas eu quero me recolher à pequenez da minha pessoa, da minha mortalidade comum, sair pra rua, comer uma paella bem gorda e dançar muito.
Salut!

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Pavarotti e o ovo





Os designers consideram o ovo como a mais perfeita de todas as embalagens.
"Nessum durma" é, pra mim, uma das canções mais perfeitas de todas as que ouvi. Hoje, com essa música ao fundo, na voz de Pavarotti, a emissora de rádio anunciava:
"Faleceu hoje em Modena, vitimado por câncer de pâncreas, aos 71 anos, o tenor Luciano Pavarotti. Pavarotti foi um dos cantores que mais contribuiu para popularizar a música lírica..."

Acaba a notícia, sai do ar a lindíssima "Nessum durma" e o locutor anuncia, sorridente:
"Agora é a vez de Kelly Kee, com o megassucesso "Tô nem aí".
O destino, definitivamente, não guarda o menor parentesco com um ovo.
Click.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

O Lobão é a segunda pessoa mais chata do Brasil...


... porque a primeira continua sendo o Jô Soares, que esse é imbatível.

O Lobão merece o segundo posto. Primeiro, por aquele cabelo que parece de fato um rabo de égua, não metaforicamente, mas tem-se a impressão de que ele foi lá, cortou o rabo de uma égua qualquer e fez aplique com a coisa. Mas o cabelo seria secundário se ele não fosse metido a engraçadinho, sem ter o menor physique du rôle para tanto.

Ontem, o rapaz que se acha douto em assuntos gerais estava no papel de entrevistador numa mesa com 5 convidados - na Multishow. Tema interessantíssimo: o jeitinho brasileiro é ou não falta de ética?

Me acomodei no sofá, arrisquei-me a entrar em depressão estética com o cabelo do Lobão, até.
Mas não consegui passar dos 10 minutos inicias.
As pseudogracinhas se sucediam na velocidade da luz.

E quando os participantes eram convocados a falar, não chegavam a completar UMA ÚNICA IDÉIA, porque o Jôbão, digo, o Lobão, interferia e cortava o raciocínio do convidado.
Perto do décimo minuto, desejei fortemente que o Lobão se fodesse e mudei de canal, porque vi que os convidados estavam ali como platéia, pra ouvi-lo apenas.
Falta de timing, de bom senso, de informação mesmo. Em uma palavra: amadorismo e desrespeito. E a mesma "josiana" petulância.

Quando será que teremos pelo menos UMA versão masculina da Marília Gabriela, hein?
Esta, sim, a única a entrevistar de fato. Confiança no taco, inteligência, perspicácia e, sobretudo, respeito pelo telespectador e pelo entrevistado, que no programa dela sempre consegue falar.

Lobão, vai compor, vai.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Moça na janela



(Moça sentada vista por trás. Salvador Dalí. 1925)

Seu mundo se resumia àquela janela. Daí que ela meditava muito sobre aridez. Quase nunca passava gente. Por isso, esperava ansiosamente aparecer na janelinha do prédio em frente o cara barbudo, que vinha de vez em quando, olhava para fora, fixava-se um pouco nela e sumia.
Era o quase-único indício de vida: a barba daquele homem. Pelo menos era uma barba ruiva, o que trazia um pouco de ouro e rubi para a existência da moça na janela.

domingo, 2 de setembro de 2007

Uma metaforazinha do Brasil

Sabe onde é?
Pizzaria La Gloria, Avenida Macuco, 685, Moema.
Éramos quatro, sábado, quase onze da noite. Entramos. Casa linda, muitíssimo bem decorada, grande, arejada. Lotada.
A recepcionista nos indica: 45 minutos de espera.
— Mas nestas mesas aqui — apontou para as mesas do salão de entrada — é ficar de olho e, quando vagar, só pegar e sentar. Aí vocês podem beber enquanto aguardam a mesa pra jantar.
Beleza. Tudo dentro dos padrões. Espera aceita.
De repente, a iminência de vagar uma mesa no salão de espera. Uma amiga minha põe a mão na cadeira, para “garantir” a mesa, seguindo a orientação da hostess.
Ah, mas tinham chegado amigos do rei! Puxa, bem naquele momento? E eram descarados, como costumam ser os amigos do rei. O garçom do rei também era descarado: ele simplesmente puxou a cadeira da mão da minha amiga e fez um sinal bem descarado para 4 pessoas que tinham acabado de chegar e estavam bem distantes da mesa, e que, sem o menor pudor, mesmo tendo percebido claramente a situação, se aboletaram nas cadeiras que deveriam ser nossas.
A máscara da pizzaria La Gloria, cujo gerente prometia a um outro cliente, insatisfeito com a demora, que estava “seguindo rigorosamente a ordem de chegada”, caiu em 4 atos.
Ato 1: A recepcionista polida
Fui reclamar com a recepcionista, que pediu o número da senha que não nos foi entregue.
— Não tenho.
Ela metralhou:
— Não têm porque não pediram!

Ato 2. Não sou amigo do rei... mas posso falar com ele?

— Você pode chamar o dono, por favor? disse eu.
— É aquele ali, ó — apontou ela com o indicador — vai lá falar com ele.
Eu não “fui lá falar com ele”.

Ato 3. Gritos ou sussurros? Ah, berrar é melhor...

O gerente, percebendo meu tom nada gentil de voz, veio se inteirar do que acontecia.
Eu expliquei. Ele meneou a cabeça...
— Puxa, que desagradável!
— Puxa, que desagradável! E que providência o sr. pretende tomar?

Ato 4: O jeitinho

— Olha, o sr. se acalme que eu vou passar vocês na frente de toda a fila e num minuto estão sentados.
Ficou sem entender nada, o pobre homem, quando minha amiga disse que nós não éramos políticos, não nos vendíamos por qualquer tipo de privilégio e estávamos apenas reclamando do péssimo atendimento, do descaramento dos “amigos do rei”, do próprio rei e, sobretudo, da pretensão de uma casa que talvez julgue estar acima do bem e do mal simplesmente porque tem fila de espera de quase uma hora.
Isso acaba. E não acaba em pizza, esteja certo.
Eu nunca mais vou lá.
Quem quiser ir, seja conivente com o descaramento, a máscara, o culto ao privilégio.
Pra quem gosta, acabar em pizza pode ser um bom programa.