terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Luísa


Ganhei meu dia com a notícia de que Luísa Erundina conseguiu os recursos para pagar sua “condenação”.
Fiquei feliz como se a ré fosse uma de minhas irmãs que tivesse recuperado a possibilidade de sorrir com alguma tranquilidade.

Lembrei-me dos olhos claros e límpidos de uma Erundina sem óculos, assinando uma ficha na recepção do Hotel Nacional, em Brasília, única ocasião em que conversei com ela. Conversei, não: tietei descaradamente. Só não tive coragem de pedir autógrafo, porque acho bem cafona — mas que fiquei sépia de vontade de pedir, isso fiquei.

No fundo, seria um autógrafo redundante, pois a marca de determinadas pessoas se engasta na alma da gente como pedra preciosa e ali fica pra sempre, quieta, em calmaria de brilho. Que força mantém esse brilho eu não sei definir. No caso de Luísa, muito provavelmente a enérgica integridade. E o mais surpreendente — se não fosse trágico — é que a cada injustiça de que essas pessoas são vítimas acrescenta-se mais uma faceta ao diamante que as sintetiza. Impossível não lembrar de Luísa, do Tom Jobim:
“Como um brilhante que partindo a luz / Explode em sete cores/ Revelando então os sete mil amores... “
Impossível também não imaginar — sem o menor fundamento que não o do desejo intenso — que Milton Nascimento pudesse ter pensado nela ao compor Maria, Maria. Não importa que isso não seja verdade, mas uma verdade pode ser uma possibilidade que se esqueceu de acontecer, mal plagiando Mário Quintana.
Impossível ainda não estabelecer confrontos, contrastes, realçar antíteses.

De um lado, um caco de vidro de frouxo e nefasto brilho, que precisa de uma tela de televisão para veicular ao infinito os estilhaços de suas palavras fétidas, como o Sr. Boris, aquele que joga bosta no gari. De outro, um ser humano de primeiríssima linha, que não precisa de nenhum suporte para brilhar, porque é diamante, brilha por si, mesmo que permaneça calado, no seu canto que nem sempre é um canto audível, já que virou mantra de quem carrega o peso de injustiças desconcertadas e sem conserto.

Luísa, um abraço e um diamante imaginário — mas com sete mil cores — pra você.

2 comentários:

Conceição Oliveira disse...

Ueba! beleza de ler e ver e sentir o gosto destas letras.

Bê Galvão disse...

Precisa fazer chegar até ela essas lindas linhas!
Abraços