Quando eu era adolescente, rachava o bico de rir da minha mãe se emocionando com a Dalva de Oliveira na Rádio Mayrink Veiga e depois na Nacional. E aquelas capas todas da Revista do Rádio... Achava de uma cafonice atroz tudo aquilo.
Afinal, estávamos vivendo a fase do canto minimalista da bossa-nova, embora Tom Jobim já compusesse pra Dolores Duran e fizesse arranjos pra Dalva. Ah, e no interior não havia televisão...
Mas o bom mesmo era ouvir aquela vozinha minúscula da Nara Leão, a batida novíssima do João Gilberto (que hoje eu acho um saco)e toda aquela gente nova surgindo como por milagre, revirando tudo.
Dalva era o passado, a gritaria. Com ela, Emilinha, Marlene, Nélson Gonçalves, Carmem Costa, Linda e Dircinha Batista... e o Chico Viola, cuja morte parou o Brasil. Um bando de gente que gostava de abrir os braços e gritar e exibir uma potência vocal totalmente fora de propósito pra gente.
Maysa era a mais aceitável, pela voz aveludada e discreta e o gosto sofisticadíssimo. E Sílvia Telles, que desbancou tanta garganta de ouro com uma vozinha de quase nada, assim como Claudete Soares.
No meio disso tudo, um casal discretíssimo, politizadíssimo: Nora Ney e Jorge Goulart, os que mais sofreram com a "invasão" da Rádio Nacional pela ditadura.
Nora Ney era a fossa ambulante, versão nacional de Juliette Greco, a musa do existencialismo.
E Dalva era uma Piaf. Mas não gostávamos de Piaf também. Era uma voz nos longes da Europa, que na época era muito mais longe que hoje. Cheguei a vê-la ao vivo, numa casa noturna de SP, quando ela foi relançada, com "Màscara Negra" e gravou algumas músicas do Chico Buarque.
A bossa-nova se firmou, tirou o samba-canção de moda, moeu uma pancada de gente...
Depois, a retomada das músicas de Dalva no shows de Bethânia...
Com a idade, aprendi a escutar Dalva extirpando um pouco a overdose do sotaque, a forma "antiga" de pronunciar as palavras... A cafonice das letras do Herivelto passaram a ser vistas com outros olhos.
E hoje me pego aqui ouvindo Dalva e vendo uma minissérie sobre a vida dela.
Já tinha visto, no teagtro, "A estrela Dalva", com Marília Pera, que musicalmente é muito superior à série.
Hoje consigo entender que a Dalva tem uma voz de cristal. E gosto.
Acho que mudamos: o Natal e eu.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
A estrela Dalva
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Um comentário:
É bom ler sobre algo que não vivemos e melhor ainda quando quem escreve, faz parecer que vivemos! Isso é bom!
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