segunda-feira, 10 de março de 2008

Risque meu nome do seu caderno...

Notícia do Terra, outro dia:

“Ao contrário do senso comum, envelhecer faz com que uma pessoa fique mais liberal e tolerante, e não mais conservadora e intransigente, segundo revelou um novo estudo.”

Verdade.
Principalmente porque, com a idade, a gente liga o “foda-se”. Aliás, atitude inteligente em qualquer idade, mas às vezes só possível quando nos desligamos de alguns contextos que nos pressionam e acabam comandando nossa trajetória.

Isso quer dizer, mais ou menos, que a hipocrisia social é necessária até certo ponto e até
certa altura da vida. Depois, simplesmente a gente descobre que perdeu muito azul dando importância para os vermelhos da família, dos patrões, do nosso hitlerzinho interno — sempre alerta —, da Igreja com seus misteriosos castigos, dos diabinhos vermelhos da mulher que espia pela janela, da que cuida das pregas alheias, da que vive com a trena na mão pra calcular o tamanho do pinto do pobre passante... Um dia a gente dá a virada final na mesa e percebe que podia ter feito antes.

Mas a coisa não acontece assim, como quem diz “água”, não! Vai se instalando e tem sempre a torcida contra, né? Essa é forte e a primeira providência é mandá-la para a puta mãe que a pariu. Sem abrir qualquer exceção.

É torcida contra, risque da agenda, da lista de e-mails, do MSN, do orkut, do caralho-a-quatro. Impiedosamente.
E é bem fácil descobrir torcida contra... Dela fazem parte todos aqueles que fazem caras e bocas (especialmente caras de “Nossa!” e boca de “Oh!”) quando você conta que tá tendo um caso com a mulher do vizinho, ou com o próprio vizinho, ou com o sobrinho da melhor amiga (“Chega a ser quase pedofilia! Cruzes!”), às vezes com o jardineiro, com a entregadora da lavanderia... enfim, com quem lhe deu na telha ter um caso, dar uma trepada ou simplesmente convidar pra tomar um “dringue”, como diz minha secretária.
São pessoas dotadas do mais radical moralismo, quando se trata da genitália alheia. Risque.

Também fazem parte do babado-contra aquelas pessoas que invocam dogmas de qualquer religião (desde o inferno físico redescoberto pelo papa atual até a reencarnação em que você virá maneta, perneta, sem olho, sem... rima, porque xingou a mãe num dia de ira). Pronto, falou na trilogia castigo-vaiterdepagar-reencarnaçãopra aprender, não hesite. Risque da agenda.
Só não faça durante a noite, porque são seres que costumam ser barulhentos na queda. Podem acordar o vizinho que você detesta ou seu companheiro/ sua companheira de cama. E isso nunca é bom, a menos que ambos tenham propostas indecorosas a fazer no escuro da noite. Então, tirante essas excitantes stiuações de exceção, risque. Do caderno, do mapa, da agenda, da vida.

A próxima e gravíssima categoria dos que torcem contra é constituída pelos políticos brasileiros. Bastou você juntar “dez real” pra comprar alguma coisa, anunciam aumento do índice do Imposto de Renda, pessoas física e jurídica (Aliás, alguém já viu alguma pessoa jurídica ao vivo? Assim, na fila do cinema, no jardim, na piscina, no mercado? “Oi, pessoa jurídica. Como vai?” / “Oi, pessoa física, vou bem. E você? Também sendo expoliada pelo governo?”).
Pois esses políticos nunca dão trégua a ninguém. Eles tramam, na calada da noite ou no auge do dia, contra você, sempre. São detalhes minúsculos, pensados com um prazer mórbido, com a finalidade de foder (no mau sentido) a vida do cidadão. Então, também fará bem riscar os políticos. Simplesmente não votando em nenhum, em nenhuma eleição, para cargo algum.
Eles acabarão desaparecendo do horizonte.

Depois disso vêm as empresas de nacionalidade espanhola. Aliás, a própria Espanha, né? barrando nossos compatriotas com uma fúria de dar inveja à “dels Bals” ou a Franco, que deve repinicar no inferno de Bento XVI...
A Espanha, quem diria, com uma população que um dia correu pra cá cagando de medo do fascismo, foi bem recebida e agora chuta os cus brasileiros com a impunidade de quem não sabe o que é chute e muito menos cu. A Espanha que nos brindou com a Telefonica, irritantemente sem acento, com o Santander, o banco mais atrasado do sistema econômico universal (digo universal porque pode ter banco em Marte, quem disse que não?). E se, de repente, a gente mesmo decidisse resolver isso com o pouco brio que nos resta, hein? Já pensou o Santander sem nenhum cliente? Vermelho de raiva e sem ninguém pra entrar, sair e ficar sofrendo as filas internas da incompetência deles? Já pensou os assinantes da Telefonica (eu sempre leio TelefoNÍca, como se escreve, sem acento) todos debandando pra companhias de celulares a ela não relacionadas e cancelando seus telefones fixos e seus speedys? Ou seriam speedies?
Milhares e milhares de pessoas cancelando, simplesmente, e tendo o prazer imenso de falar pras atendentes: [i]“Motivo de cancelamento? Nada, não, querida. Re-ta-lia-ção! Só isso.. Estamos retaliando...” [/i]
E quer prazer maior do que pressupor que a atendente vai escrever na sua ficha “retalhação”, com LH? Nossa! Acabei de entrar na zona da filha-da-putice. É bom parar...

Aliás, é bom parar principalmente porque eu me desviei do assunto e cumpre retomá-lo.
Envelhecer faz bem sim, faz bem de monte para os donos dos planos de saúde...

Um comentário:

evaodocaminhao disse...

muitas coisas para administrar