quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Gol contra pode

Hoje faz 4 dias que eu não leio jornal. E chegam dois por dia. Todos vão virar sustentação de cocô e mijo da Meg.
Ler, não tenho lido. Nem na internet.
Nem vejo jornal de televisão. Quer dizer, vejo ao zapear.
E é desse zapear que se forma em minha mente um mosaico bem rústico. Quer dizer, um mosaico em primeiro instância, porque logo o amarelo que pontuava uma roupa alegre de alguém vira vermelho; o azul de uma possível São Paulo sem nuvens vai ficando cinza; o verde das poucas árvores que viram cenário de notícia também vão desbotando.
Aí a sensação de mosaico desaparece e fica apenas aquela cor pastosa de merda.
Parece que aspergiram cocô no mundo.
Será que um deus cruel tá cagando (literalmente) pra gente e, pior, SOBRE a gente?

Um dos capítulos mais geniais do Memórias póstumas de Brás Cubas é este, curtíssimo.
(Pra quem não leu, Marcela é a amante de Brás, prostituta e solteira. Virgília, a outra amante, casada com um amigo dele. Brás é o próprio narrador, que conta a história depois de morto. Bom, pelo menos ele não tem o menor constrangimento em ser natural, já que, morto, caga e anda pras nossas mesquinharias).

Eis o capítulo:

CAPÍTULO XLII / QUE ESCAPOU A ARISTÓTELES
Outra coisa que também me parece metafísica é isto: Dá-se movimento a uma bola, por exemplo; rola esta, encontra outra bola, transmite-lhe o impulso, e eis a segunda boa a rolar como a primeira rolou. Suponhamos que a primeira bola se chama... Marcela, -- é uma simples suposição; a segunda, Brás Cubas; a terceira, Virgília. Temos que Marcela, recebendo um piparote do passado rolou até tocar em Brás Cubas, o qual, cedendo à força impulsiva, entrou a rolar também até esbarrar em Virgília, que não tinha nada com a primeira bola; e eis aí como, pela simples transmissão de uma força, se tocam os extremos sociais, e se estabelece uma cousa que poderemos chamar solidariedade do aborrecimento humano. Como é que este capítulo escapou a Aristóteles?

Eu tenho uma curiosidade bem grande a respeito do deus/ Deus(?) que deu o impulso inicial na bola que vem rebatendo em cima da gente o tempo todo.
Acho que não vai sair gol, não.
Só se for contra.

3 comentários:

Unknown disse...

Nossa...
Eu rindo da bosta...
Mas essa analise de Brás Cubas me fez pensar... emudeci!
Fazer o que? Tem certas coisa que só nós mesmo entendemos.
Nem a metafísica e nem Aristóteles!
Vai entender!


Bjo.

evao do caminhao disse...

e esses jornais jogam uns jargões que dão ibope ... e me cansam

arremeter... febre amarela...

afe

por isso tô aproveitando as férias pra ler os livros abandonados nas prateleiras... certamente me serão mais úteis

Gi disse...

Você já pensou que há bolas que nunca se batem, nem por tabela, e mesmo assim estão em cima da mesa?

"Você não sabe, então, que era incerta essa estrada
Que conduziu nossos ideais,
E que um capricho, um quase nada,
Podia não nos ter juntado nunca mais?" P. Gérardy