domingo, 2 de setembro de 2007

Uma metaforazinha do Brasil

Sabe onde é?
Pizzaria La Gloria, Avenida Macuco, 685, Moema.
Éramos quatro, sábado, quase onze da noite. Entramos. Casa linda, muitíssimo bem decorada, grande, arejada. Lotada.
A recepcionista nos indica: 45 minutos de espera.
— Mas nestas mesas aqui — apontou para as mesas do salão de entrada — é ficar de olho e, quando vagar, só pegar e sentar. Aí vocês podem beber enquanto aguardam a mesa pra jantar.
Beleza. Tudo dentro dos padrões. Espera aceita.
De repente, a iminência de vagar uma mesa no salão de espera. Uma amiga minha põe a mão na cadeira, para “garantir” a mesa, seguindo a orientação da hostess.
Ah, mas tinham chegado amigos do rei! Puxa, bem naquele momento? E eram descarados, como costumam ser os amigos do rei. O garçom do rei também era descarado: ele simplesmente puxou a cadeira da mão da minha amiga e fez um sinal bem descarado para 4 pessoas que tinham acabado de chegar e estavam bem distantes da mesa, e que, sem o menor pudor, mesmo tendo percebido claramente a situação, se aboletaram nas cadeiras que deveriam ser nossas.
A máscara da pizzaria La Gloria, cujo gerente prometia a um outro cliente, insatisfeito com a demora, que estava “seguindo rigorosamente a ordem de chegada”, caiu em 4 atos.
Ato 1: A recepcionista polida
Fui reclamar com a recepcionista, que pediu o número da senha que não nos foi entregue.
— Não tenho.
Ela metralhou:
— Não têm porque não pediram!

Ato 2. Não sou amigo do rei... mas posso falar com ele?

— Você pode chamar o dono, por favor? disse eu.
— É aquele ali, ó — apontou ela com o indicador — vai lá falar com ele.
Eu não “fui lá falar com ele”.

Ato 3. Gritos ou sussurros? Ah, berrar é melhor...

O gerente, percebendo meu tom nada gentil de voz, veio se inteirar do que acontecia.
Eu expliquei. Ele meneou a cabeça...
— Puxa, que desagradável!
— Puxa, que desagradável! E que providência o sr. pretende tomar?

Ato 4: O jeitinho

— Olha, o sr. se acalme que eu vou passar vocês na frente de toda a fila e num minuto estão sentados.
Ficou sem entender nada, o pobre homem, quando minha amiga disse que nós não éramos políticos, não nos vendíamos por qualquer tipo de privilégio e estávamos apenas reclamando do péssimo atendimento, do descaramento dos “amigos do rei”, do próprio rei e, sobretudo, da pretensão de uma casa que talvez julgue estar acima do bem e do mal simplesmente porque tem fila de espera de quase uma hora.
Isso acaba. E não acaba em pizza, esteja certo.
Eu nunca mais vou lá.
Quem quiser ir, seja conivente com o descaramento, a máscara, o culto ao privilégio.
Pra quem gosta, acabar em pizza pode ser um bom programa.

4 comentários:

Fê Ruça disse...

Isso me irrita taaaaaaaaaanto!

Eneas Neto disse...

Vamos divulgar o lugar! E façamos nossa parte, sempre.

Dri Spaca disse...

eu quero dar tiro quando isso acontece.

Tati Tatuada disse...

Putz é a segunda vez só hoje que me falam dessa Pizza Glória e como você tem total credibilidade comigo, lá não ponho meu corpinho passeio, não mesmo!
Beijo.