sábado, 16 de março de 2013

TRÊS POEMAS DE CIRCUNSTÂNCIA


MOÇA, ME OUÇA

A noite
Pode ser um uivo de coiote
Ou um foxtrote:
Depende da cava
Do teu decote.


ORAÇĀO 

Nāo deixar nada
Pra resolver amanhā. 

Sentir-se como pele
Envolta por densa lā
Num inverno bestial.

Deixar deperto e atento
Somente o fero animal.

Pensar em nada:
Esquecer a madrugada,
Que chega sempre - é fatal-
Interlúdio entre o sonho
E a corrosiva razāo,
Sede de todo sim
Contraposto sempre a um "nāo",
Quando o que desejamos
É tāo somente
Respirar.

(Boa noite a quem vira bicho, se for preciso)




SE ESTA RUA FOSSE MINHA...

Ah, se pudéssemos brincar
com nossas aflições
no meio da nossa rua!
Nossas casas numeradas
mudariam de fachada
perdendo a feição ordenada...
A casa verde
seria a "da moça que acredita".
A casa amarela,
seria a "da moça que medita".
A casa de portão rosa,
a "da velhinha maldita
que vive inventando prosa”.
A casa de telha estragada,
a "da tiazinha safada”.
.........................................
E no meio-fio,
filho de todo mundo,
o sujo cachorro felpudo
com doce olhar de veludo,
que dispensa toda casa
para preservar as asas
que podem servir de teto
a essas almas inchadas
de represados afetos.

(Em tempos de papa reaça
e de pastor-ameaça,
temos de, pelo menos,
fazer chalaças vadias
com as palavras macias).
Boa tarde.






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