Ela esperou desde o amanhecer que o marido se lembrasse do aniversário de casamento.
Insinuou, perguntou algumas vezes: “Que dia é hoje, amor”? Ele respondia um número, verdadeiro fio de navalha a cortar sua expectativa.
Ele saiu de casa pro trabalho.
Ela saiu de si para dar conta da arrumação modorrenta da casa.
Cantou várias vezes aquela música, a primeira que tinham dançado. Cada nota escorria por um canto da sala e tombava no chão. Cada palavra se esfacelava em sons sem eco. Mas ela cantava, cantava e cantava.
Parecia um pilão socando sementes que teimavam em brotar com força.
A mudez agressiva do telefone dava conta do resto.
“Dia de nãos” – pensou.
Preparou a comida mais com o coração do que com temperos. Mas era um coração doído e ela experimentava, experimentava e achava tudo meio amargo...
De repente notou o vaso no canto de uma mesa. Só hastes, pontiagudas, verdes.
Nunca cuidara direito daquele vaso. As plantas cresciam porque é da natureza delas crescer, simplesmente.
Sentou-se. Ficou olhando as hastes. Coisa mais sem graça aquilo. Pensou em atirar o vaso pela janela, em estilhaçá-lo e morder os cacos até sangrar por fora o que já estava sangrando por dentro. Chegou a segurar o vaso no colo e, nessa posição, dormiu, exausta.
Acordou com o marido olhando-a, com os olhos brilhantes. Adivinhou lágrimas neles.
O vaso, no colo, tinha agora uma flor.
- Eu não esqueci, não, querida. Estava esperando a flor se completar dentro de mim para te oferecer ela na integridade de sua beleza.
O universo se recompôs.
Parece que foram felizes para sempre... Sabe-se lá...
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Feliz aniversário
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