Pois é... há algumas décadas surgiu o Faustão.
Era um gordo engraçado, inteligente, criativo, que comandava o Perdidos na Noite, na TV Record. Programa divertidíssimo, com espaço para a marginália da época.
Foi engordando cada vez mais e ficando cada vez mais sem graça...
Aliciado pela Globo, virou aquela meleca, mistura pastosa de showman com Camisaria Colombo.
Sem graça - mas se supondo um Chaplin -, sem vocabulário - mas se achando um erudito -, sem ginga - mas se considerando um Fred Astaire -, o pacote flácido navega ainda pelas tardes de domingo numa demonstração de que redundância é mesmo o que dá certo: "ô loco!", expressão roubada da fala tão espontânea do interiorano virou frase ridícula porque veiculada pela boquinha melada do Pantagruel global (vocês já notaram que ele tem os lábios sempre úmidos? Seria gloss ou é cuspe mesmo?); as pegadinhas de dez ou mais anos de idade fazem lembrar o início do VHS: show de chuvisco; a gozação nada sutil e extremamente deletéria em cima de gays... enfim, o esperado, repetido ad nauseam, para gáudio de um público que espera o mundo acabar em barranco para ter onde se encostar.
Pois bem: para chacoalhar a placidez domingueira, surgiu há pouco o Pânico na Tevê.
Oba! Esperanças no horizonte!
Criativos, os rapazes costumavam constranger famosos com suas brincadeiras nem sempre rigidamente pautadas pelo bom gosto, inventar situações efetivamente engraçadas... E dá-lhe criatividade! A dinâmica do programa, embora lembrando bastante aquele inaugurada por Chacrinha algumas décadas antes, era divertida, cheia de novidades verbais e visuais, o escracho era a cara do Brasil mais criativo... enfim, altíssima taxa de informação.
De repente - como ocorreu no último domingo - temos 4 minutos de programa e 5 de publicidade. Marcados no relógio, pois sim? O barco começou a naufragar... A puta se casou com o industrial, não admite mais que se fale em esquina, parou de chupar e virou dama. Agora só Igreja N.S. do Brasil pra ela. Ah, na missa das 11, que é a chique.
Não se trata de hipocritamente propagar a baboseira de que criatividade não combina com lucro. Artista tem mais é que ganhar bastante grana mesmo, especialmente se é criativo. Como jogador de futebol, que não se forma em escola.
Mas o que tá ocorrendo no Pânico, peraí!
Ninguém é trouxa! O programa perdeu a graça, perdeu a verve, perdeu o sentido, exatamente porque ganhou sentido no contexto escroto da mídia.
Comprometido com tantos anunciantes, certamente o raio de ação dos meninos antes tão criativos vai-se restringir. Se a esposa do dono da indústria X, anunciante, for uma cafona de marca e estiver na mira dos humoristas... não vai mais acontecer nada, né? Ou vai?
E a dondoca que detém poder sobre o industrial tal, que tem uma cota do programa? Vai ser objeto de gozação? Claro que não, seu João!
E a Globo... ninguém detona um possível futuro lar, né?
Além da liberdade restrita, o program virou uma grande vitrine de produtos - fato que já não mais suporta a dinâmica original do palco - e cai no dèja vu. Quer apostar que logo, logo o Pânico estará com novo visual, comportadíssimo, pra poder acomodar os anunciantes?
Uma pena? Sim, é um pena. Não porque eu os ame. Apenas não vejo agora a menor graça no programa. Já, já o público começa a desligar a televisão na hora do programa.
Tomara que o grupo entre em pânico. E não saia mais.
Bem feito.
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
A antialquimia: transformando ouro em bosta
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pânico tevê bosta cooptado
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6 comentários:
Poeta, você colocou em palavras exatamente o que penso. Faustão, não assisto desde Perdidos na noite e Pânico, pelo andar da carruagem, provavelmente deixarei de assistir
Por isso cada vez mais deixamos a tevê de lado.
Só descobri esse blog agora rsr...loira lerda rs
Faustão não assisto e pânico só comecei a assistir a parte do Evandro....que agora tbm não vejo mais.
beijocas q vou acabar seu blog inteiro
"a televisão me deixou burro muito burro demais
agora todas as coisas que penso me parecem iguais"
Eu concordo. A pomba gira. E quem disse que o capital é assexuado? O seu garanhão, o lucro, sempre flerta com a criatividade para sorrateiramente currá-la.
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